Epidemia de miopia está ligada ao uso de telas

Celular faz mal aos olhos? A pergunta aparece quando observamos como muitas pessoas demonstram estar viciadas nas telas de seus celulares.

Esse uso do celular ou tablet a todo instante, em qualquer ambiente e por todas as idades, inclusive por crianças pequenas, começa a preocupar os médicos.

Dentre essas preocupações está a epidemia mundial de miopia. O resultado? Mais pessoas estão se tornando míopes hoje se comparado a uma década atrás.

O problema dessa epidemia de miopia não diz respeito somente a mais pessoas precisando de óculos, mas de sua condição patológica, das doenças associadas à miopia, como, por exemplo, o descolamento da retina e o glaucoma.

Alguns países já sofrem mais do que outros. É o caso de nações asiáticas, onde a situação é mais dramática. Singapura, por exemplo, apresenta mais de 90% das crianças míopes ao terminarem a escola.

Há duas possíveis teorias que explicam essa epidemia de problemas na visão. A primeira é que as pessoas estão passando mais tempo em frente às pequenas telas de seus smartphones ou tablets, o que acarreta no uso excessivo e preocupante da visão de perto.

O uso do smartphone não é novo, mas o abuso tem se tornado a regra nos últimos anos e, o pior, em idades cada vez mais reduzidas. Estudos no mundo todo apontam que o fator genético não teria tamanha rapidez no aparecimento de novos casos.

Como médico oftalmologista, constato isto, pois diariamente faço diagnóstico de miopia em jovens e crianças pequenas sem histórico familiar.

A segunda teoria não está diretamente ligada aos aparelhos eletrônicos, mas ao fato das crianças passarem mais tempo em locais fechados do que em ambientes abertos.

Por não receberem a mesma exposição aos raios ultravioleta ao longo do dia, as chances de as crianças ficarem míopes seriam maiores. Isso explicaria a Ásia como o continente mais afetado, já que as escolas por lá exigem um grande esforço dos alunos por bons resultados.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que, em 2050, 50% das pessoas serão míopes e as crianças estarão entre as vítimas mais vulneráveis.

Essa epidemia de miopia não deve ser confundida com a falsa miopia: reclamação frequente entre a turma que fica muitas horas grudada às telas, sem se desligar das novas tecnologias.

O reflexo do abuso de computador, tablet, smartphones se dá da seguinte maneira: de repente, ou no fim da tarde, as imagens ficam turvas, o olho se acomoda para a visão de perto e não consegue fazer o foco à distância. Parece miopia, mas não é.

Nesse caso, os olhos sentem o excesso. A explicação simplificada é que o olho tem um músculo que se contrai para focar imagens próximas. Para ver de longe, ele teria de relaxar, mas, com o vício, o músculo demora a se acomodar na posição certa. Aí, leva algum tempo para voltar.

Uma sugestão para evitar esse turvamento é que, a cada 50 minutos de uso de eletrônicos, você dê uma pausa. Mas não vale sair da tela do computador e ir checar o Whatsapp, Twitter… Pare e olhe para longe, tome um copo de água, dê uma espreguiçada, caminhe pelo ambiente de trabalho e, depois de uns 10 minutos com o olho no foco para longe, volte ao trabalho.

Embora não tenhamos certeza se há uma ligação direta entre essa exposição e problemas oculares, há fortes evidências da relação entre excesso de uso e problemas oculares permanentes, mas na medicina as verdades são transitórias.

Há outros problemas associados ao excesso de uso dessas tecnologias, um verdadeiro vício das sociedades urbanas, que pode ter uma analogia ao vício em jogos ou drogas. Uma verdadeira abstinência com incômodo e ansiedade para ter novamente o smartphone nas mãos.

Há estudos que dizem que, em média, um adulto passa cerca de 7 horas por dia com os olhos fixos em uma tela, e quase metade deles se sente ansioso quando está longe de seu telefone ou tablet e que 43% das pessoas com menos de 25 anos sentem uma verdadeira irritação, ou ansiedade, quando não podem checar seu telefone no momento em que desejam. Sim, existem pessoas dependentes de tecnologia em todas as idades e, se for o seu caso, a ajuda deve ser procurada.

Em meio a isso tudo, os pais que já estão preocupados com o futuro dos filhos pequenos devem lembrar que é difícil a criança não ter interesse em tecnologia enquanto os pais estão mexendo o tempo todo no celular.

As tecnologias podem e devem ser usadas como ferramentas, mas com cautela e zelo. Evite ofertar filminhos e jogos no celular para distrair seu filho, o exemplo é fundamental.

A seguir, listo algumas dicas para evitar a fadiga visual:

  • Mantenha o celular a distância mínima de 30 centímetros e o monitor a 60 cm.
  • Faça pausas a cada 50 ou 60 minutos de trabalho em telas.
  • Não posicione o monitor ou celular de frente para janelas, para evitar o ofuscamento.
  • Lembre-se de piscar.
  • Faça consultas anuais com o oftalmologista.
  • Tenha hábitos de vida saudáveis (alimentação rica em frutas verduras e legumes e atividades físicas frequentes).
  • Não use o celular enquanto dirige. Faz mal para você e para a sociedade.

 

Espero ter ajudado você a respeito desse tema.

Abraço a todos!

Marcelo Creppe – Oftalmologista
CRM 82218-SP / RQE 41042 / CBO 104.343

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