Tecido fibroso de função protetiva, a esclera reveste o globo ocular. Chamada popularmente de “branco dos olhos”, auxilia na manutenção da forma, tônus e volume ocular ao ligar os músculos que realizam o controle dos olhos.
Por ter função externa, a esclera tem como doenças mais frequentes as de caráter inflamatório. Dependendo da profundidade da inflamação, é dividida em episclerite e esclerite.
A episclerite é a inflamação aguda do tecido episcleral, que fica abaixo da conjuntiva (membrana transparente que recobre a esclera) e acima da esclera, ou seja, é superficial, benigna e muitas vezes autolimitada. Essa inflamação traz como consequências desconforto ocular, hiperemia (aumento da quantidade de sangue circulante no local) e lacrimejamento e sua duração pode variar entre 2 a 21 dias.
As complicações oculares da episclerite são pouco frequentes e geralmente leves, podendo apresentar recorrência no mesmo olho ou no contralateral. A sua frequência é maior que a da esclerite.
Já a esclerite é geralmente grave, progressiva, com inflamação dos tecidos episcleral (superficial e profundo) e escleral, cursa com quadro gradual de dor ocular severa, com característica de irradiação para face ipsilateral (mesmo lado do olho acometido).
As complicações oculares da esclerite são frequentes e severas, podendo evoluir para perda ocular por perfuração, descolamento de retina, edema do nervo óptico, alterações corneanas, uveíte, glaucoma, entre outras.
A associação da episclerite e esclerite com doenças sistêmicas reumatológicas é muito frequente, aproximadamente 32% dos casos na episclerite e em 75% dos casos na esclerite. Isso requer investigação sistêmica dos pacientes com inflamação escleral, que também podem ocorrer em associação com enfermidades metabólicas, degenerativas, neoplásicas e por traumatismo.
Calcula-se que 1 em cada 200 pacientes com artrite reumatóide tenha esclerite. Desse modo, episódios recorrentes ou persistência dos sintomas requerem avaliação clínica sistêmica e o encaminhamento para o reumatologista é aconselhável para cooperação no diagnóstico e tratamento.
Espero ter esclarecido o tema.
Abraços,
Marcelo Creppe
Médico Oftalmologista
CRM 82218-SP / RQE 41042 / CBO 104.343